2024 está morto, viva 2024!

O ano de 2024 está prestes a chegar ao fim, e aproveito este momento festivo para reflectir sobre a minha contribuição no panorama nacional da banda desenhada.

Para isso, é necessário voltar um pouco no tempo, até 2019, quando reatei laços com a banda desenhada, graças ao Curso de Iniciação à Arte Sequencial, leccionado por Susana Resende, com o apoio de Daniel Maia e patrocinado pela Câmara Municipal do Montijo.

Como muitos de vocês sabem, desse curso surgiu a oportunidade de ingressar no Colectivo Tágide, onde continuei a publicar algumas histórias — algumas recentes, outras nem tanto — e a manter-me activo e em contacto com o que se faz na banda desenhada portuguesa. Fiz novas amizades, aprendi muito e, o mais importante, ganhei fôlego para continuar a criar. Os desafios propostos pelos colegas e os seus sucessos editoriais deram-me ânimo e motivação para desenhar, escrever e criar. Gradualmente, as histórias que tinha guardadas começaram a parecer menos más, e novas ideias foram-se acumulando no meu Google Keep, assim como piadas, tolices e ideias descabidas que, embora pareçam valiosas num momento, no dia seguinte podem parecer apenas um cocó embrulhado num papel de Ferrero Rocher.

Fénix (e não fónix) renascida das cinzas

O colectivo Tágide, que se manteve activo entre 2019 e 2023, chegou ao fim, assim como a minha participação no fanzine Outras Bandas. A boa notícia é que, a partir disso, surgiu um novo grupo: o TágIIde, comprometido em produzir banda desenhada com ainda mais qualidade, e do qual faço parte. Começamos 2024 com a publicação do livro “Abril, Cravos Mil – Histórias de Liberdade” e já temos outro projecto em andamento.

Para além do “Abril, Cravos Mil – Histórias de Liberdade”, e conforme anunciado no AmadoraBD de 2023, aproveitei para autopublicar a minha banda desenhada a solo Dark Crusade – A Cruzada Negra.

Quero deixar aqui o meu muito obrigado a quem adquiriu este livro. Principalmente àqueles que gostariam de ver outras coisas da minha parte, como por exemplo humor ou cartoon, ou àqueles que gostariam simplesmente de me pagar para estar quieto.

Convívio e eventos

Tal como me confidenciou o Hugo Teixeira durante o Festival de Fanzines e Banda Desenhada de Alpiarça, o verdadeiro valor dos eventos reside no convívio. Concordo plenamente, mesmo sendo um pouco reservado, pois os festivais são uma excelente oportunidade para nos apresentarmos, trocarmos ideias, conhecermos o trabalho dos colegas e vivenciarmos a banda desenhada como um produto finalizado. O processo criativo é muitas vezes solitário e estes eventos fazem-nos sair da toca.

Começo pelo Festival de Alpiarça, onde representei o grupo TágIIde. Foi a minha primeira visita a Alpiarça e fiquei bastante impressionado com o evento. Trata-se de uma iniciativa despretensiosa que aproxima a banda desenhada do público, dando palco a artistas locais e independentes, além de celebrar os fanzines e a própria banda desenhada. O que há para não gostar?

Em 2024, participei pela primeira vez no CoimbraBD, um festival promissor, realizado numas instalações deslumbrantes (Convento de São Francisco).

Regressei também ao Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, um dos eventos de banda desenhada mais acolhedores e familiares de Portugal. Sempre que lá vou, sinto-me bem, talvez devido às minhas raízes alentejanas ou à amabilidade de Paulo Monteiro que, apesar de atarefado, nos faz sentir sempre em casa.

O AmadoraBD foi, para mim, o evento principal. No ano anterior, já havia anunciado a intenção de lançar a Cruzada Negra, e este ano cumpri a promessa. Apesar do horário matinal não ter atraído muitas pessoas, aproveitei o tempo e o espaço que me foram concedidos para divulgar o meu trabalho, e sou muito grato pelas oportunidades que me têm sido oferecidas.

Participei da Tertúlia BD de Lisboa em duas ocasiões: uma como membro do grupo TágIIde, onde eu e o José Bandeira, falámos sobre o “Abril, Cravos Mil”, e outra como convidado especial, apresentado o meu livro, Cruzada Negra. Agradeço à organização da Tertúlia pelo convite.

Por fim, recebi um convite do Rui Alves de Sousa para partilhar um pouco sobre o meu livro solo, o meu percurso artístico e a banda desenhada de forma geral. Aqui está o link, caso queiram ouvir.

Pranchas e Balões - A Cruzada Negra de RoD!

O que podem esperar de mim em 2025?

Vou continuar a trabalhar com o grupo TágIIde nos projectos de maior gabarito e paralelamente continuarei a montar o meu novo livro a solo “RoD – 40 anos a procrastinar”, ou “40 anos a procrastinar”. Ainda não sei bem o que lhe vou chamar. Podem esperar uma colectânea das minhas histórias de banda desenhada humorísticas que foram sendo publicadas por aqui e por ali, mas também coisas novas, aquelas ideias que fui juntando e que prometem cativar feministas, políticos extremistas, religiosos, adeptos de banda desenhada mainstream, etc. Para além do dinheiro investido nos livros, da minha casa, do meu emprego e da minha família, não tenho nada a perder! Por isso, podem esperar que seja fiel a mim próprio.

Continuem a apoiar a banda desenhada portuguesa, oferecendo-a sempre que possível. Comprem livros de autores independentes (não me refiro apenas aos meus). Mais importante do que isso, lembrem-se de que muitos dos filmes e séries que adoram têm origem em argumentos e ilustrações de histórias em banda desenhada. Se nunca leram uma banda desenhada, ainda estão a tempo de começar; não se deixem influenciar por opiniões de amigos ou familiares que possam criticar.

A banda desenhada não é apenas para crianças. Existem diversos géneros dentro deste universo, que é um mundo novo a explorar. Experimentem! Apenas precisam de saber ler (pelo menos até ao 4º ano de escolaridade) e de interpretar expressões faciais ou aquelas sombras do Rorschach.

Agradeço mais uma vez a todos que me têm apoiado, seja pela compra dos meus livros ou pelas avaliações no Goodreads (sejam elas boas ou más), seja pela partilha e interação com o meu conteúdo nas redes sociais, ou até mesmo pelas sugestões de abrir um OnlyFans com fotografias dos meus pés em vez de criar banda desenhada.

Desejo a todos um excelente 2025!

Vemo-nos por aí.